Quilombo Campinho da Independência - Paraty/ RJ

da direita para a esquerda, abaixados: Amanda, Jéssica, Viviane (Profª), Elizabeth, Thalita, Renata, Letícia,
 Lucas e Rodrigo, Em pé: Rita, Sabrina, Flávia, Fabíola, Vinícius, Gustavo, Jeny, Daniel, Ingrid, Lucrécia (Profª),
 Wlamisa (coord. pedagógica), Débora, Ismara, Cláudia (guia) Paulo, Divino (prof.) Em pé, na última fileira: Juliana, Ana Célia, Jeferson, Elias, Anderson e Denise.

Educadora Laura e Nosso querido Profº Divino
*Griô ou Mestre(a) é todo(a) cidadão(ã) que se reconheça e seja reconhecido(a) pela sua própria comunidade como herdeiro(a) dos saberes e fazeres da tradição oral e que, através do poder da palavra, da oralidade, da corporeidade e da vivência, dialoga, aprende, ensina e torna-se a memória viva e afetiva da tradição oral, transmitindo saberes e fazeres de geração em geração, garantindo a ancestralidade e identidade do seu povo.
Griô Adilza


REMONTANDO OS PASSOS DO PASSADO



      A Griô* Adilza conta um pouco de como surgiu esse refúgio e como era o cotidiano dos moradores de antigamente.

Crianças Quilombola
      Antigamente o atual Quilombo Campinho da Independência era uma fazenda cedida para as três mulheres por ser uma terra que não servia mais para o plantio dentre outras fazendas que ficam ao redor que também não estavam sendo produtivas, Segundo Adilza a Vovó (uma das três mulheres) foi conciliar com os moradores das outras fazendas para construírem famílias.

      Essas famílias tinham o livre arbítrio para construir sua casa onde se sentissem melhor, casa construída com material local como: barro, madeira, folhagem, etc. Como antigamente não haviam estradas as famílias viviam de certo modo isoladas, porém tendo acesso a todos os lugares através de trilhas, longas caminhos no meio da mata para chegar a rios, cachoeiras, praias para a busca do alimento ou até mesmo para tomar banho.

    Os alimentos eram produzidos por cada família, mas  tudo era de todos, sempre  compartilhavam do que tinham e também faziam troca de alimentos , eles viviam bastante da agricultura , tinham muitas plantações de cana-de-açúcar e mandioca. 

O grupo na Roda ouvindo as histórias do Quilombo
      O arroz e o macarrão  até então eram tidos como pratos para ocasiões especiais, eles utilizavam a farinha de mandioca como o elemento principal da refeição juntamente com o feijão, esses alimentos que faziam a base alimentar da época, ou também o Azul-marinho um prato mais regional que era feito com peixe e a cica da banana(substancia que aparece nas frutas ainda não maduras) e a mistura desses ingredientes ao fogo gerava essa coloração cujo respectivo nome, hoje perde um pouco do sentido por causa da quantidade de ingredientes que colocamos no dia a dia que acabam descaracterizando-o.  

Grupo aprendendo sobre a ciência das ervas
      Também bebiam bastante café do caldo da cana que servia pra comer com mandioca cozida, batata doce, paçoca de banana,e bolo de fubá. Eles também produziam seu próprio açúcar, moendo a cana fazendo um melaço pra fazer a rapadura ou o próprio açúcar natural - o açúcar mascavo.

      Já para a sua locomoção para a cidade era uma grande jornada, quatro horas e meia de caminhada até chegar ao centro histórico em Paraty com a finalidade de comprar o sal para conservar os alimentos e a querosene para a iluminação, pois não havia energia elétrica.

Igreja São Benedito-
 da comunidade Quilombola
      No seu trajeto para o centro histórico eles se deparavam com o rio Caraputanga três vezes, às vezes devido às fortes chuvas na nascente desse rio, eles conseguiam retornar devido à cheia e tinham que dormir numa casa vizinha para aguardar o rio baixar para continuar a caminhada até seu destino (casa ou centro histórico). Devido às dificuldades de ir para o centro histórico eles tinham que viver do que eles tinham como recurso natural (plantação e pesca).
Escola da comunidade quilombola

  




        Os pais geralmente levavam os filhos para a roça quando iam trabalhar,  não para trabalharem junto mas porque não tinha com quem deixar em casa e era mais seguro os filhos estarem junto aos pais, as crianças geralmente ficavam embaixo de uma árvore sentadas em uma esteira feita de palha comendo cana, observando e aprendendo.

   
         A educação era dever dos pais, pois não havia escola, exceto em época de eleição quando algum político enviavam um professor para dar aulas na casa com maior sala para melhor acomodação dos alunos e se aquele político que enviou o professor não fosse eleito as aulas paravam e  só voltavam nas próximas eleições e assim alunos acabavam sendo lesados por ter essa falta de aprendizado.  
Artesanata Quilombola

    Adilza também conta como alguns moradores aprenderam a ler, junto a um morador chamado Leandro que havia saído da comunidade para estudar no Rio de Janeiro -Capital e que depois voltou mais ”inteligente” e ensinou a outros habitantes a leitura.

Casa de fabricação de farinha
  Em questão de saúde eles não necessitavam ir Paraty para socorrer casos como cortes e lesão de ossos, a medicina local poderia solucionar esses problemas como, por exemplo, em caso de quebrar um braço, eles pegavam um cipó tiravam a cica do cipó no fogo e enfeixava o braço com o cipó, aquela lesão no osso iria se recompondo; já no caso de um corte usava-se a cica da banana para estancar o sangue e para a cicatrização, também se utilizava a folha da bananeira passada no fogo que adere certa resistência usada pra enfaixar.
     Na região havia remédio pra praticamente tudo; existia certa preocupação dos mais velhos de passar esses conhecimentos medicinais de geração em geração.


Cabaça, Usado para artesanato e
 Instrumento Musical(Berimbau)
      As festas eram bastante celebradas, dias de santos e carnaval, como eles trabalhavam por conta própria eles reservavam esses dias especiais e não trabalhavam, iam tomar  banho num rio próximo, aproveitavam bastante o dia já que não tinham horários a cumprir; Mas logo com a chegada da estrada de chão que começaram  a passar as primeiras lotações para Paraty eles começaram a cumprir os horários para não precisar andar quatro horas e meia até o centro histórico, isso já foi mudando as suas rotinas que até então estava sendo ditada pelo cantar do galo e pela posição da sobra.

     
Unidade de Saúde Quilombola
Tia Bernarda
         Logo depois quando surgiu a estrada Rio-Santos,que gerou um grande impacto na comunidade, pessoas que queriam ser donos dessas terras, os habitantes que trabalhavam na agricultura, tiveram que se de deslocar e ir trabalhar em outras áreas para poderem pagar advogados para defenderem suas terras, porém muitas vezes foram enganados por falsos advogados por não terem estudos. O dinheiro que eles conseguiam vinha da agricultura, principalmente da farinha e da banana e como esses elementos não tinham muito valor era necessário produzir em grande quantidade, isso desestimulava muito os agricultores que começaram a plantar o alimento para o próprio consumo e irem trabalhar fora para conseguir dinheiro. Com esses fatores os maridos iam trabalhar fora e as mulheres na roça junto com os filhos.

Vejamos algumas informações sobre a sabedoria das ervas que nos foi passada pela nossa guia Cláudia:

Erva: Terramicina, Antibiótico Natural contra infecções internas ou externas
Erva: Aroeira, uso medicinal para combater infecções, febre e a sífilis

Erva: Capim Colônia, Para Curas e Limpezas Espirituais


Erva: Pitanga, uso medicinal para combater a Infecções do fígado, Bronquite e cólicas menstruais


Graviola, Usada para emagrecer e contra a diabetes

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